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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Minha entrevista para o Literatura Clandestina

por Elenilson Nascimento 

“Para mim o Literatura Clandestina é sucesso.” (L.A.)


Prestes a lançar a antologia do projeto“Fala Escritor” na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o militar, blogueiro, agitador cultural e escritor baiano Leandro de Assis Malungu abre fogo nessa entrevista exclusiva contra os “poetas” que só sabem provocar “saudade, melancolia e tristeza”. O autor de “Eu Sou Todo Poema” garante: Descobri que nem sempre os melhores escritores estão nas melhores editoras e livrarias e que alguns nem livro publicado têm, estão em blog’s”. 
O simpaticíssimo autor, exemplo não muito comum nas letras brasileiras, é um caso raro de um militar que anda dando certo como articulista e já conhecido poeta e, seguramente, o único que pode ostentar glórias tão díspares – como a de ser campeão de natação, bombeiro e autor de versos intrigantes na literatura baiana, como no caso do poema “Cidade sem futuro”“Os pacientes já não têm paciência/Os pobres estão morrendo no chão/Coitados dos que estão na emergência/Cidade vendida para turistas/Que vem atrás de carnaval/Curtem a festa, mas deixam doenças”, onde Leandro se mostra em carne e osso de que a força física pode conviver sem grandes traumas, em uma só pessoa, com um extremo apuro intelectual.
E esse poeta baiano continua entregue a uma difícil, suada e elegante batalha com as palavras. Leandro é, acima de tudo, rigoroso com o que escreve. Trabalha as palavras com a precisão de um médico na mesa de cirurgia. Despreza as emoções fáceis. Não quer nem ouvir falar de poetas e escritores que não tenham “interesse intelectual” e também alfineta essa imprensa de Salvador, cada vez mais medíocre:

“Entre ir fazer a cobertura de um evento e publicar algo que já chegou prontinho, o que você acha que este veículo irá escolher? Além do mais, tem pessoas e grupos que acham que são conhecidos e já se acham sucesso e esperam que a imprensa vá até elas, não é assim que a coisa funciona, é preciso ter humildade para crescer, estou apenas começando e estou buscando aprender com pessoas que trabalham com a arte e a cultura a muito mais tempo do que eu”, escreveu. 
Mas ele também fala da vaidade na literatura com uma frieza que chocaria os não iniciados e os mais sensíveis: “A única coisa que me incomoda na literatura brasileira é a vaidade de alguns autores (...) Aqui na Bahia tem alguns que compartilham seus textos na linha do tempo (Facebook) dos outros, mas quando alguém publica algo na deles, eles se desmarcam ou ocultam a visualização da sua linha do tempo”.
E num dos raros momentos de folga, ele deu essa entrevista exclusiva metido numa impecável pijama de xadrez de seda de mangas compridas abotoada até a gola. Uma vez, em sua casa de praia, no famoso bairro da Ribeira, combinou com um repórter da TV Bahia uma entrevista para as dez e meia da manhã. A circunstância de estar de folga de frente para o mar não lhe alterou o gosto de cumprir os horários com rigor. O repórter chegou vinte minutos depois da hora marcada. Leandro não perdeu a chance: “Você chegou com uma pontualidade nada britânica…” – foi à primeira saudação que ele pronunciou. Faz tempo que a cena ocorreu. Mas Leandro não mudou nada. Fora que é um dos caras mais brilhantes e simpáticos que eu conheço, apesar de termos diferenças gritantes de ideologias e crenças.Como escritor eu sou um cara frustrado, mesmo tendo sido eleito recentemente para Academia de Letras do Brasil Seccional Suíça, mas acredito que chegarei ao nível da Elisa Lucinda e estarei entre os mais vendidos em meu Estado, se eu não acreditar em mim quem irá acreditar?”, pontuou. Agora, curtam a entrevista.
Elenilson – O que te motivou a começar a escrever?
Leandro de Assis – Estudei no Colégio Estadual Ypiranga e todos os estudantes desta escola eram obrigados a conhecer a história daquele lugar. E numa dessas pesquisas sobre a vida e a obra do antigo morador de lá (Castro Alves), descobri a pequena biblioteca da escola. Lá tive contato com as obras de José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo e outros clássicos da nossa literatura. Foi quando comecei a escrever, usando o próprio caderno da escola, cheguei a escrever umas trinta páginas de um romance e depois parei por não conhecer nada sobre o mercado editorial. O contato com esses autores através de suas obras até hoje é motivo de paixão e admiração.
Elenilson – Como você escolhe o nome de seus livros?
Leandro de Assis – Meu primeiro livro contém textos que escrevi de 1996 até 2007, é um livro de poemas, porém a maioria deles fala sobre meus sentimentos e das coisas que vivi durante pouco aquele período, então, precisava de um título que tivesse a ver com a história do livro, foi quando o escritor Valdeck Almeida de Jesus, após ler e fazer as correções ortográficas, sugeriu o nome “Eu Sou Todo Poema” e eu achei ótimo. Já o segundo livro, eu mesmo escolhi o nome, é uma obra totalmente diferente da primeira e nela eu grito para o mundo tudo aquilo que me aflige e incomoda na sociedade, tudo aquilo que me deixa inquieto são minhas ‘Inquietações’.
Elenilson – Eu disse, numa outra entrevista com o professor e crítico de cinema André Setaro, que fico puto da vida com a imprensa aqui nessa província chamada Salvador. Então, a mesma pergunta eu faço pra você: cadê os Cadernos Culturais? Cadê as cabeças criticando e falando de artes?
Leandro de Assis – Talvez você fique puto da vida comigo agora, pois raramente faço críticas à imprensa em relação à cultura, o Fala Escritor, projeto que desenvolvo e que fará três anos em agosto, é divulgado desde a primeira edição nos principais jornais do Estado, quando não sai nada num determinado veículo em um mês, sai no outro. Como posso criticar quem até aqui tem contribuído gratuitamente para o crescimento do Fala Escritor? Além do mais, faço minha parte, divulgo em meus blog’s os eventos literários que tomo conhecimento e quando vou num desses eventos costumo fazer a crítica, publicar em blog, enviar para jornais e compartilhar nas redes sociais, se todos fizessem isso seria uma maravilha. 

Elenilson – Como você encara essa imprensa de ócio não só na Bahia, mas no Brasil inteiro?
Leandro de Assis – Encaro como acho que deve ser encarada, vivemos num mundo capitalista e a imprensa vende a informação, ela tem seus custos e quer seus lucros. Se eu conseguir acesso a um veículo de informação não peço para ele ir ao meu evento, não peço para que venha me entrevistar, eu simplesmente envio as informações que desejo que sejam divulgadas e numa linguagem adequada aquele veículo e espero. Entre ir fazer a cobertura de um evento e publicar algo que já chegou prontinho, o que você acha que este veículo irá escolher? Além do mais, tem pessoas e grupos que acham que são conhecidos e já se acham sucesso e esperam que a imprensa vá até elas, não é assim que a coisa funciona, é preciso ter humildade para crescer, estou apenas começando e estou buscando aprender com pessoas que trabalham com a arte e a cultura a muito mais tempo do que eu. 
Elenilson – O que a literatura brasileira tem de bom e de ruim?
Leandro de Assis – A literatura brasileira é riquíssima, tem ótimos autores e a cada dia tenho buscado conhecer mais, vasculho antologias, blog’s, revistas eletrônicas e vou aos lançamentos de livros de autores que não conheço, pois, para mim, a literatura brasileira não é composta apenas por autores clássicos e autores renomados, mas também pelos diversos autores que ainda são anônimos para o grande público. A única coisa que me incomoda na literatura brasileira é a vaidade de alguns autores, para mim, quando a vaidade toma conta de um autor, quando ele se sente uma estrela, o seu trabalho começa a perder qualidade, pois ele deixa de criticar a si mesmo e passa a não aceitar a crítica dos outros. Aqui na Bahia tem alguns que compartilham seus textos na linha do tempo (Facebook) dos outros, mas quando alguém publica algo na deles, eles se desmarcam ou ocultam a visualização da sua linha do tempo.
Elenilson – Qual a diferença entre os seus dois livros de poemas “Inquietações” e “Eu Sou Todo Poema”?
Leandro de Assis – Vou pedir licença e deixar meus amigos Valdeck Almeida de Jesus e Carlos Conrado falarem sobre esses livros: “Eu Sou Todo Poema de Leandro de Assis sangram, choram, agonizam e amam. Refletem a angústia do ser humano diante de uma sociedade que vive a se debater entre sagrado e o profano, entre o prazer e a dor, entre o "ser" e o "dever ser", entre intermitentes desígnios de Eros e Tanatos. Em Sobre Eu e Eu Sou lanteja um refluxo de palavras que oscilam entre o Eu Sublime e o EU Anárquico, e deixam no ar os cálidos vestígios do Eu Visceral - que é o Eu imperscrutável, inacessível, de mistérios e desejos transcendentais, não explicáveis à luz da razão bem comportada”, disse Valdeck Almeida. E “Inquietações”: “Os versos do escritor Leandro de Assis pulam das folhas e invade as nossas mentes para plantar a semente de tudo aquilo que fazemos questão de ignorar. O Livro “Inquietações” marca o amadurecimento do poeta e torna a sua visão mais aguçada que outrora. Leandro registra aqui o seu encontro com Deus e com o amor em todas as suas vertentes. Faz-nos refletir sobre os rumos das nossas atitudes e suas consequências. Em outras palavras... a sua poesia nos incomoda. Seus personagens e situações são tipos de uma nação que clama por dias melhores. Crianças abandonadas, violência, drogas, ódio, política depravada!... Deus! O Salvador e curador de todas essas mazelas provocadas por esta sociedade a qual fazemos parte. Inquietações é um livro inquieto até em sua estrutura óssea”, escreveu Carlos Conrado. 
Elenilson – Escrever um livro não é fácil, e tem que ter muita dedicação. De onde você tira suas forças, já que você é um cara multiuso? 
Leandro de Assis – Tiro forças dos sentimentos, quando estou com raiva, por exemplo, escrevo tão rápido que parece que estou gritando e que tem alguém me ouvindo, é como se eu estivesse discutindo com alguém, principalmente quando se trata de uma injustiça. Quando estou triste, escrevo com lágrimas nos olhos, às vezes elas caem, fico muito emocionado e tenho que parar para não sofrer mais, não sou de esconder sentimentos, não finjo que o olho está coçando quando na verdade às lágrimas pedem passagem. Assim vou escrevendo, sem me preocupar se uma crônica ou um poema será parte de um livro ou não, quando me obriguei a escrever para publicar não saiu nada, então é melhor continuar escrevendo por amor e se tiver que publicar basta reunir os textos.

Elenilson – Como você encara a formação intelectual dos jovens em nossas universidades? A universidade tem cumprido seu papel na formação desses jovens?
Leandro de Assis – A universidade recebe muitos analfabetos funcionais e por isso precisa ensinar coisas que os alunos deveriam ter aprendido no nível médio. Assim é muito difícil para as universidades cumprirem seu papel, pois tem alunos que ainda entregam trabalhos copiados do Wikipedia. São esses alunos, caro Elenilson, que te pagam por monografia e TCC.
Elenilson – Hoje em dia, muitas editoras e a mídia em geral têm se acomodado na divulgação dos seus best seller de vampiros e Harry Portter e dito que escrever livro é uma coisa ultrapassada. Como você vê este ofício?
Leandro de Assis – É como na música, muitos ótimos cantores estão tocando em barzinhos e o público não dá valor, mas quando eles alcançam o sucesso e uma grande gravadora abraça o trabalho deles, seus show’s passam a custar R$ 80,00 e todos reclamam dos valores praticados. As editoras são empresas e continuarão investindo naquilo que gera lucro, o problema é que os pais e professores acreditam que os adolescentes não gostam de ler e não os incentivam a buscar uma literatura diferente e eles por si mesmos chegam à literatura fantástica. Não vejo problema nesse tipo de literatura, a não ser quando esta é a única linha literária consumida por esses jovens, isso sim é um problema. Segundo a revista Raça, o livro “Parem de Falar Mal da Rotina”, de Elisa Lucinda, é o segundo livro mais vendido no Rio de Janeiro, perdendo justamente para Harry Portter, e é um livro de prosa. E daí se uma editora não acredita que prosa de não-ficção não vende? Quem tem que acreditar no teu livro é você. Temos bons escritores na Bahia, porém eles, assim como eu, são péssimos vendedores.
Elenilson – Você acha que a internet, assim como fez na indústria fonográfica, vai acabar com o mercado da leitura, ou na melhor das hipóteses mudar alguma coisa?
Leandro de Assis – Não acredito, eu odeio ler livros inteiros numa tela, leio apenas publicações em blog’s, se passar de três páginas eu imprimo e não sou o único. Quanto às mudanças só daqui a alguns anos para que possamos descobrir o que mudou, estamos vivendo essas mudanças e assim é difícil percebê-las.
Elenilson – Como surgiu a ideia de criar o Fala Escritor? E quais os critérios para escolher os participantes?
Leandro de Assis – Queria conhecer os donos dos textos que eu lia nos blog’s, então, entrei numa comunidade do Orkut chamada “Escritores de Salvador” e fiz a proposta de um encontro com recital poético e oportunidade para todos mostrarem seus trabalhos. Sabia que não poderia fazer isso sozinho e convidei outros escritores: Valdeck Almeida de Jesus, Fau Ferreira, Monique Jagersbacker, Grigório Rocha, Carlos Sousa e Renata Rimet. Pessoalmente eu só conhecia o Valdeck, os outros conheci pelo Orkut e convenci a participar do projeto, exceto Renata que conheci numa livraria. Como é um evento voltado para escritores, as palestras e palestrantes precisam entender sobre mercado editorial, já o quadro “Quem é o Escritor?” convidamos qualquer escritor que tenha uma obra interessante, seja ela publicada em livro ou em blog’s e nosso recital poético é aberto, a inscrição ocorre durante o evento.

Elenilson – O livro vai acabar ou vai acabar se adaptando a este novo formato de mercado?
Leandro de Assis – Não acredito que o livro irá acabar. Acredito que eles ficarão menores para caberem nas bolsas e nos bolsos (risos). Talvez meu próximo livro já seja nesta linha de “livros de bolso”.
Elenilson – Qual o seu maior orgulho no seu trabalho?
Leandro de Assis – Como organizador do Fala Escritor, meu orgulho é a cada dia conhecer novos escritores e seus trabalhos, principalmente quando começaram a escrever por incentivo ou influência nossa. Como escritor eu sou um cara frustrado, mesmo tendo sido eleito recentemente para Academia de Letras do Brasil Seccional Suíça, mas acredito que chegarei ao nível da Elisa Lucinda e estarei entre os mais vendidos em meu Estado, se eu não acreditar em mim quem irá acreditar? Como organizador do Concurso Literário Ebenézer, estou satisfeito, a primeira edição do concurso rendeu bons frutos literários e a segunda edição está com inscrições abertas.
Elenilson – Quais são os desafios que você tem enfrentado como escritor? 
Leandro de Assis – Vender livros é o maior desafio. O segundo é engraçado, muitas pessoas que não conheço vão prestigiar as programações do Fala Escritor e meus amigos sempre dizem que irão e não comparecem. Fico chateado com isso, ainda não aprendi a entender que nem todos gostam de literatura e para piorar alguns ainda perguntam: “vai ter coffee break?”. Um dos amigos chegou a me dizer que poeta bom é poeta morto e que depois da minha morte comprará meus livros, pois ai sim será sucesso.
Elenilson – Em vários sites de autores anônimos, eles oferecem aos leitores a oportunidade de baixar capítulos ou até mesmo um livro inteiro. Você acha válido esse novo formato para que a pessoa leia e tire as suas próprias conclusões e se vale à pena ou não comprar o livro?
Leandro de Assis – Acho válido como um investimento de marketing, mais uma vez comparo o escritor ao músico, os primeiros discos, ele distribui de graça, vende a R$ 1,00, gasta mais do que ganha até que uma grande gravadora o descobre e acredita que aquele trabalho lhe dará lucro. O engraçado é que muita gente que não comprou aquele disco quase de graça, comprará o da grande gravadora por um valor muito maior só porque está nas rádios ou nos programas de TV. Isso é péssimo para o artista, pois a partir desse momento a maior parte dos lucros do seu trabalho vai para os empresários e não para o autor. Se esses autores colocarem seus livros numa grande livraria dará no mesmo, pois elas ficam com 50% do valor de capa, tirando o investimento do novo autor com a editora ele só terá prejuízos financeiramente falando. Mas se ele acreditar no seu potencial e quiser lançar numa grande livraria como uma ação de marketing, isso será um investimento que no futuro lhe dará um retorno.
Elenilson – Quais foram suas maiores descobertas na literatura?
Leandro de Assis – Descobri que nem sempre os melhores escritores estão nas melhores editoras e livrarias e que alguns nem livro publicado têm, estão em blog’s. 
Elenilson – Qual seu maior conflito? 
Leandro de Assis – Investir tempo e dinheiro com literatura e não ter retorno financeiro. Às vezes, penso em parar, mas aí vem alguém e diz que começou a acreditar em si mesmo e na literatura através do Fala Escritor ou de algum depoimento meu e isso me faz continuar. No seminário da UBE, por exemplo, um poeta me disse ter mais de 160 poemas e que influenciado pelas minhas palavras e pela minha história contada no seminário iria publicá-los.
Elenilson – O que normalmente tem ouvido em casa (*não quero saber de músicas de crente)? E com relação às suas leituras?
Leandro de Assis – Depende do momento, mas minha preferência é escutar rock e reggae, ultimamente tenho escutado Rodolfo Abrantes, Petra e Shaba Roots (um banda de reggae formada por alguns amigos do meu bairro). Quanto às leituras, leio sempre um autor baiano e outro título de qualquer de áreas que me interessam como história, geografia, sociologia, filosofia, anarquismo, jornalismo e produção de texto.
Elenilson – As artes no Brasil, feitas à base de patrocínios públicos e por famílias muito ricas, querem tudo menos se comprometer. Quando há discordâncias, é de uma patota em relação à outra. Jornalistas de renome na Rede Bahia, por exemplo, consideram que resenhar livros e discos é uma atividade menor, é comprar brigas por nada. Comenta.
Leandro de Assis – Nem tenho vontade de comentar, já basta os meus conflitos, não quero pensar em outros que podem ser maiores. Basta a cada dia o seu mal!

Elenilson – Muita gente deve achar que você é um maluco ou, na pior das hipóteses, um desocupado por trabalhar com literatura numa província medíocre como Salvador. Como você encara essas futricas e panelinhas?  E como encara as críticas?
Leandro de Assis – Devo ser maluco mesmo, nessa área todos são. Quanto às futricas e panelinhas, eu escuto algumas coisas, mas evito comentar porque não é comigo, recebo todos que queiram participar do Fala Escritor e quando posso vou a outros eventos literários, mas às vezes um lançamento ou outro acontece em dia que estou no quartel. Nesta semana gostaria de ir ao Pós-Lida e no sábado gostaria de ir ao CEPA (Círculo de Estudo Pensamento e Ação), mas estarei de serviço nos dias destes eventos. Quanto às críticas, elas são bem-vindas.
Elenilson – Críticas na Bahia, por exemplo, parecem ser sinônimo de pendenga pessoal. Comenta.  
Leandro de Assis – As pessoas pensam que quem crítica é inimigo e nem sempre é assim, eu faço critica aos amigos e aceito críticas deles também, na última edição do Fala Escritor não deu tempo de uma escritora falar do seu trabalho, ela se chateou e criticou a minha postura, a de outros colaboradores e nem quis me ouvir, não quis saber as razões, apenas disse que quando ela não for a primeira a se apresentar que não a chame mais. Encontrei-a no seminário da União Brasileira de Escritores e senti que ela ficou com receio de falar comigo, fui lá e falei com ela, pois entendo que não foi nada pessoal, foi uma crítica ao meu trabalho e a minha política de organização no Fala Escritor.  
Elenilson – Será mesmo que para se fazer sucesso na Bahia você tem que se anular, não tem senso crítico, ser amiguinho de todo mundo, viver o tempo todo sorrindo, amar e bajular as demências da Wanda Cheise e Marrom e seus genéricos, e principalmente dizer que tem baianidade?   
Leandro de Assis – (risos) Eu não faço isso. Será que é por isso que ainda não faço sucesso? Também não sou artista do axé para andar na boca do Marrom e da Wanda Cheise. Além disso, essa questão de ser ou fazer sucesso é relativo. Para mim seu blog Literatura Clandestina é sucesso, talvez para você mesmo não seja. Todos os meses meu nome está em algum jornal, site ou blog devido ao projeto Fala Escritor, conheço muita gente importante do cenário cultural e literário, mas sucesso para mim será quando eu lançar um livro e a venda ultrapassar mil exemplares.
Elenilson – Qual a importância da universidade e da vida acadêmica no seu trabalho?
Leandro de Assis – Na minha obra literária? Não sei... Formei em licenciatura em história e meu curso foi todo focado na questão do ensino, acho que sou um bom professor, quanto a isso a universidade cumpriu seu papel, pois conseguiu me fazer acreditar que a educação é a uma das formas capaz de transformar a nossa realidade. Além disso, aprendi a desenvolver projetos e foi lá que conheci grandes autores como Durkheim, Comte, Proudhon, George Woodcock e René Rémond.
Elenilson – Você escreveu: “Todos os dias penso no amor, não por ser poeta, mas sim por amar... por ter alguém especial ao meu lado, alguém que acredito que foi separada por Deus para mim e que em um momento da minha vida Ele tocou no meu coração e disse: ‘É ela, agora é com você, conquiste-a’”. Achei isso demasiadamente clichê, para não usar outra palavra. O que Deus tem a ver com a sua vida sexual e afetiva? Com tantas coisas para Ele se preocupar, você acha mesmo que Ele ainda vai ter tempo de ficar “ligado” com quem você dorme?    
Leandro de Assis – Você achou isso por não conhecer a Deus. A minha relação com Deus é uma relação de pai e filho, em diversas passagens bíblicas Deus se mostra e se comporta como nosso pai. Leia Lucas 11:9-13. Procuro ter intimidade com Ele e não penso que por Ele estar se preocupando com algo da minha vida que você acha insignificante Ele esteja abandonando outras questões, pois Deus é onipresente, onisciente e onipotente. Deus tem tudo a ver com minha vida afetiva, pois ele se importar com a felicidade dos seus filhos. Entrega teu caminho a Ele, confia Nele e verá.
Elenilson – Você é crente, militar e vive andando em más companhias, portanto, tem tudo para que eu detestasse você. Contudo, rolou justamente o oposto. Eu já sei o motivo, mas queria saber de você também.
Leandro de Assis – (risos) Reparou que nunca te perguntei quais são as más companhias que você se refere? Quanto a ser cristão e militar, que bom que você ultrapassou a barreira do preconceito e se deu oportunidade de me conhecer e perceber que na sociedade existem estereótipos de “crente” e “militar”. Infelizmente ainda existem muitas pessoas que generalizam e acham que todo militar é “isso ou aquilo” e da mesma forma com os cristãos.  

Elenilson – A idolatria da mediocridade, tão comum nestes tempos petistas, merece e deve ser respeitada, pois, por exemplo, um sistema de cotas como da UFBA sem um prévio programa de reforço nas escolas públicas se serviram para elevar o fosso intelectual que separa esses estudantes dos privilegiados (*a UFBA ainda é uma universidade para ricos e os poucos pobres que estão lá, estão por serem ousados). Precisamos ter cuidado com essas bravatas politicamente corretas para não sermos enganados novamente. Vou ficar atento quanto essa "nova" política de avaliação nos vestibulares da UFBA, mas não tenho mais nenhuma esperança com mudanças. Comenta isso.
Leandro de Assis – Não estudei na UFBA e nem sei se irei estudar lá algum dia. As cotas não ajudam em nada, pois tenho amigos que por estudarem lá são obrigados a sair do emprego, não conseguem conciliar devido às aulas de seus cursos serem em mais de um campus e também devido aos horários das aulas, dependendo da disciplina, acontecem em turnos diferentes. Acho que esse é um grande problema e poucos observam, pois o que adianta uma cota para entrar e depois ter que largar o trabalho para estudar, não conseguir se manter e ter que trancar semestres? Muita gente pobre, porém guerreira, que estuda e tem condições de ser aprovada na UFBA opta pela universidade particular devido à facilidade de conciliar com o trabalho. 
Elenilson – Ler um bom livro é como um casamento selado entre a memória e a história desentranhada das palavras. O que você anda lendo?
Leandro de Assis – Como disse antes, leio sempre um autor baiano e outro qualquer. Neste momento estou lendo “Nos Bastidores do Na Mira” de Valdeck Filho e “A Arte de Escrever Bem” de Arlete Salvador e Dad Squarisi. Além de poesias, contos e crônicas na internet.
Elenilson – O Giuliano Manfredini, filho do Renato Russo, disse numa entrevista que “ninguém pode falar que é heterossexual se nunca experimentou o outro lado”. Achei até observação muito pertinente, mas quando fui entrevistá-lo e pedi para ele explicar melhor, simplesmente fui ignorando. Você não acha que hoje em dia as pessoas adoram falar que “comem todo mundo” só para aparentarem modernidade? Você acha que isso pode acabar rotulando e consequentemente influenciando os seus trabalhos? Como você lida com isso?
Leandro de Assis – Renato Russo eu conheço, mas quem é Giuliano mesmo? Ah tá, o filho, e daí? E “comer” todo mundo é ser moderno é? Nem sabia. Meu trabalho não tem nada a ver com o cara que “come” todo mundo, não sei como isso poderia rotular meu trabalho. 
Elenilson – A política no Brasil se tornou uma lata de lixo. A justiça no nosso país só “funciona” para pretos e pobres como ficou evidente na Câmara do Senado, no caso da dePUTAda Jaqueline Roriz (PMN-DF) que escapou com facilidade, sob o argumento de que a corrupção era anterior ao mandato. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para esses tempos bicudos. Contudo, na época do Renato, que fez algumas letras bastante políticas, a coisa não era tão diferente assim, mas a juventude era mais atenta. O que você acha da cena política?  
Leandro de Assis – Acho que a cena política é reflexo da sociedade, enquanto o individualismo for a marca da sociedade, teremos políticos que “governam” para si e para os seus. Não podemos esquecer que os candidatos saem do nosso meio. 
Elenilson – E sobre essa juventude asneada desse novo – ainda velho – século?
Leandro de Assis – A juventude atual tem um problema sério, o imediatismo. Querem tudo para ontem, não fazem planejamento de nada, não tem paciência e não sabem esperar por uma oportunidade. Além do mais, muitos se acham e querem ser adorados, no primeiro problema que enfrentam caem em depressão. Essa é a geração do muito falar e pouco ouvir e o que mais falam é: EU SOU. Ainda bem que não são todos. 
Elenilson – A multiplicação recente dos programas de TV locais voltados para a abordagem da violência, do mundo cão e dos dramas da vida privada dos miseráveis gerou uma atividade nova nas delegacias de polícia e incorporou uma tarefa nova à rotina dos policiais. Muitos delegados e policiais, interessados em “colaborar” como produtores de conteúdo desses programas, e claro, sempre muito mais interessados em ficar bem na fita com os apresentadores e em evidência sob os holofotes, sobretudo no caso de delegados em busca de um mandato de deputado estadual nas eleições de outubro, incorporaram a câmera filmadora a suas rotinas de trabalho. Comenta, como observador desse caos. 
Leandro de Assis – Quando assisto um delegado ou um policial militar entrevistando um preso para a TV fico com raiva, isso mesmo, entrevistando, tomando o lugar do repórter. Para piorar a situação, depois da entrevista o repórter vira juiz e dá a sentença, diz quantos anos o cara vai ficar preso e o que vai sofrer na cadeia. Mas minha raiva não é por pena do preso e sim porque amanhã, quando este policial se envolver ou for envolvido numa situação, os jornais e os repórteres também darão sua sentença e sem nem se quer ouvi-los. Quando o problema é com polícia, inexistem as palavras suspeito ou acusado nas chamadas das matérias ou nas capas dos jornais, o que sai lá é a sentença dos poderosos.
Elenilson – O que você pensa ou como se sente diante desse panorama cultural atual na Bahia?
Leandro de Assis – Lá no bairro onde moro tem o Cine Teatro Plataforma, o espaço é lindo e as programações são ótimas, mas muita gente do próprio bairro não frequenta, mas vão aos show’s de pagode na Pararela e depois ficam reclamando dizendo que no bairro não tem nada. Tem sim, mas eles querem é Parangolé lá no bairro. Em diversos pontos da cidade tem artistas e programações culturais e o povo não dá valor. Paguei R$ 40,00 para assistir “O Indignado” num teatro na Av. Juracy Magalhães e meses depois o mesmo espetáculo estava por R$ 2,00 no Cine Teatro Plataforma. Eu só reclamo de alguma coisa depois que faço a minha parte, neste momento estou fazendo a minha parte.
Elenilson – Prefiro ser expulso da ABL a não ser lido por um cara na Feira de São Joaquim. E você? Venderia a alma para ser publicado pela Secretaria da Cultura da Bahia ou pela Casa de Jorge Amado, com esses editais encomendados e de cartas marcadas? 
Leandro de Assis – Nunca pensei em ser publicado por eles e agora que comecei a prestar atenção nesses editais, eu não passo meu tempo pensando em como conseguir uma grana pública. Conheço um escritor que vendeu cinco mil unidades do seu livro nos coletivos, ele entrava pela frente, recitava seus poemas e apresentava e vendia o livro. Posso até fazer inscrição para um edital desses um dia, mas não vou passar a vida esperando por eles. Tem mais de 1600 pessoas no meu perfil do Facebook e 1500 delas não tem meu livro, é nisso que eu penso. 
Elenilson – As pessoas perderam a capacidade de se indignar?
Leandro de Assis – Reflexo da [IN] justiça.
Elenilson – O que ainda podemos esperar do Malungu?
Leandro de Assis – Muito trabalho.
Elenilson – O que deixaria de mensagem para os que começam a carreira agora?
Leandro de Assis – Esteja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Seja persistente e inovador, acredite em si mesmo (mas não se ache), se precisar discutir, faça isso no campo das ideias, não leve para o lado pessoal e por último reconheça e honre a todos que te deram à mão. 
 Comandando o Projeto Literário Fala Escritor. Se cuida Bial!
 Aprendendo um pouquinho com Elisa Lucinda. Que luxo!
 Sendo dirigido por Elisa Lucinda,
no projeto “Palavra de Polícia - Outras Armas”.
 Com o escritor Jorge Carrano.
 Numa noite de “loucuras” e de autógrafos na Livraria Saraiva
 - Shopping Iguatemi, Salvador - BA.
 Com Jandi Barreto e Keyla Nabuco no Fala Escritor.
 Recebendo a Placa de Prata 2012, referente ao Fala Escritor.
Fazendo demonstração com bujão de gás para crianças carentes.
Escritor rico e bem sucedido em Salvador. Só na farra!

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